Gisèle Pelicot, uma cidadã francesa de 72 anos, foi drogada e violada durante vários anos pelo seu marido, Dominique Pelicot, da mesma idade, bem como por dezenas de outros homens. A pedido da vítima, o julgamento de Dominique foi tornado público, permitindo um melhor entendimento deste caso de extrema violência.
O Início dos Crimes
Em 2010, Dominique Pelicot foi apanhado a tentar filmar por baixo das saias de mulheres num centro comercial em Paris, utilizando uma pequena câmara escondida numa caneta. Foi detido e multado em 100 euros, mas a sua esposa, Gisèle, nunca teve conhecimento deste incidente.
No verão de 2011, Dominique começou a drogar a sua mulher, levando-a a ter episódios de apagões prolongados. Gisèle recorda um dia específico em que dormiu até às seis da tarde, sem explicação aparente. Acreditando estar a desenvolver Alzheimer, procurou assistência médica, mas os exames realizados não resultaram em qualquer diagnóstico.
Anos de Abusos Silenciosos
Em 2013, o casal reformou-se e mudou-se para Mazan, uma pequena cidade no sul de França. Segundo o próprio Dominique, foi nessa altura que começou a convidar outros homens para abusarem da sua mulher. Gisèle, desconhecendo os crimes, continuava a acreditar que o seu marido era um homem atencioso, que a acompanhava às consultas médicas.
A Descoberta Chocante
Em setembro de 2020, Dominique foi novamente apanhado a filmar secretamente mulheres em locais públicos. Foi detido, e a polícia confiscou dois telemóveis, um gravador de vídeo, uma pen USB e um cartão de memória SD.
Enquanto aguardava a decisão da justiça, Dominique revelou à sua mulher a razão da sua detenção. Pouco tempo depois, entre setembro e novembro de 2020, a polícia contactou Gisèle Pelicot, informando-a de que suspeitavam que tinha sido drogada e violada durante anos pelo marido.
A investigação revelou que Dominique partilhava imagens e vídeos dos abusos com terceiros, convidando outros homens, com idades entre os 27 e os 74 anos, para participarem nos crimes. A filha do casal descobriu, horrorizada, que o pai possuía fotografias inapropriadas dela, levando-a a acreditar que também poderia ter sido vítima de abuso. Com a ajuda dos filhos, Gisèle abandonou a casa conjugal.
O Julgamento Público
Em setembro de 2024, teve início o julgamento do caso. Gisèle optou por torná-lo público, declarando que “quando outras mulheres acordarem sem memória, possam lembrar-se do testemunho da Sra. Pelicot”.
Em outubro de 2024, o tribunal declarou que Gisèle foi sedada e violada mais de 200 vezes ao longo de vários anos. Para além do seu marido, dezenas de outros homens foram responsabilizados pelos abusos que sofreu.
Em dezembro de 2024, Dominique Pelicot foi condenado à pena máxima de 20 anos de prisão, sendo considerado culpado por todos os crimes de que estava acusado.
O Caso Pelicot tornou-se um dos julgamentos mais marcantes de França, evidenciando a violência sistemática que Gisèle sofreu e a falha das autoridades em detetar os crimes mais cedo. O testemunho da vítima e a sua coragem em tornar público o julgamento deram visibilidade ao perigo do uso de substâncias para crimes sexuais e ao impacto devastador da violência doméstica prolongada.
Referências
Pereira, S.V. (2024). Caso Pelicot: algumas datas determinantes para o julgamento deste processo. Público, 19 de dezembro.