02/09/2024 Foren Insight

A Revolução da Investigação Forense: O Primeiro Caso Resolvido com ADN

O Dia Em Que o ADN Apanhou um Assassino

Passaram-se 38 anos desde o dia em que o ADN (ácido desoxirribonucleico) foi utilizado pela primeira vez numa investigação criminal. Desde então, a análise do material genético tem auxiliado inúmeras áreas e desvendado vários casos criminais.

A história remonta ao verão de 1986, quando Dawn Ashworth, uma jovem de 15 anos, desapareceu após sair da casa de uma amiga na vila de Narborough, em Leicestershire, Inglaterra. Dawn morava na vila vizinha de Enderby e estava apenas a poucos minutos de casa quando decidiu seguir um atalho pela trilha conhecida como Ten Pound Lane. Infelizmente, nunca chegou ao seu destino.

Dias depois, o corpo de Dawn foi encontrado num campo próximo. O patologista responsável determinou que Dawn tentou defender-se, mas acabou por ser violada e estrangulada. A brutalidade do crime levou os investigadores a conectarem o caso ao homicídio de Lynda Mann, outra jovem de 15 anos, encontrada sem vida dois anos antes numa localidade próxima.

Pouco após o assassinato de Dawn, a polícia deteve Richard Buckland, um jovem de 17 anos com dificuldades mentais. Buckland parecia ter informações sobre o caso que não tinham sido divulgadas ao público e, durante os interrogatórios, confessava e logo depois retirava as suas confissões. Apesar disso, foi considerado culpado do homicídio de Dawn.

Enquanto isso, na Universidade de Leicester, o geneticista Alec Jeffreys fazia uma descoberta que mudaria a história da ciência forense. De forma acidental, Jeffreys percebeu que era possível identificar indivíduos de forma precisa a partir de amostras de ADN. Publicou os seus achados e defendeu a aplicação do ADN em investigações criminais, apesar do ceticismo inicial de outros académicos.

O ADN é uma molécula complexa em forma de cadeia que carrega o material genético, presente em organismos vivos e alguns vírus. O ADN é capaz de se copiar e carrega as instruções de todas as proteínas utilizadas para criar e manter a vida.

Após a apresentação de Buckland em tribunal, os investigadores contactaram Jeffreys e pediram que comparasse o ADN encontrado nas amostras de sémen recolhidas das vítimas ao de Buckland. As análises determinaram que as amostras eram compatíveis entre si (pertenciam ao mesmo agressor), mas não coincidiam com o ADN de Buckland, provando a sua inocência.

A investigação voltou à estaca zero. Determinada a encontrar o responsável, a polícia colaborou com Jeffreys e iniciou uma recolha de amostras de sangue de todos os homens residentes na área. Em oito meses, 5.551 homens foram testados, mas nenhum correspondia ao ADN encontrado nas vítimas.

O caso avançou quando Colin Pitchfork, pai de dois filhos, foi ouvido a admitir num bar que havia pedido a um amigo para doar sangue em seu nome. A polícia foi informada e Pitchfork foi detido. As análises confirmaram que ele era o responsável pelos homicídios de Dawn Ashworth e Lynda Mann.

Colin Pitchfork foi condenado a prisão perpétua, e este caso marcou o início da utilização do ADN como uma prática essencial na investigação forense.

Referências
Cobain, I. (2016). Killer breakthrough – the day DNA evidence first nailed a murderer. The Guardian, 7 de junho.